Bruna Surfistinha – Do fetiche para as telas
No final de semana em que o tapete vermelho do Kodak Theater, na festa da premiação do Oscar, foi o personagem principal, aqui no Brasil um filme foi o principal coadjuvante.
Formado pela ECA-USP em 1998, Baldini iniciou a carreira na MTV Brasil, dirigiu videoclipes e centenas de comerciais e recebeu prêmios nos principais festivais de propaganda do mundo, como Londres, Nova York, FIAP e Brasil.
Neste primeiro longa, ele fez do filme uma fábula, com tom lírico, não realista, dando um olhar artístico, sobre a personagem título interpretada por Deborah Secco. Contando a história da menina de classe média paulistana, aluna de um colégio tradicional, que um dia decide fugir de casa e virar garota de programa. Raquel Pacheco se torna Bruna e ganha fama ao contar suas aventuras sexuais em um blog com 10 mil acesso diários . A trama é uma adaptação livre do best-seller “O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de uma Garota de Programa”, que Raquel lançou em 2005 pela Panda Books e que vendeu mais de 250 mil cópias no país, alcançando o Paulo Coelho.
Durante a Pré estréia do filme no Cinemark do Shopping Iguatemi, Rachel Pacheco mostra que já abandonou a profissão, mas não a personagem. Foi conferir o trabalho da Debora Secco. Hoje ela é casada com um ex-cliente e, assistindo o longa pela primeira vez, chorou várias vezes durante a exibição. No final comentou que ficou satisfeita com o resultado, mas ainda faltava se reconciliar com os pais.
Com tranças no cabelo, Deborah Secco chegou no shopping Iguatemi usando um vestido marrom e foi a grande atração da noite. Agora quem entrou na sala do Cinemark esperando encontrar uma clone da “periguete” Natalie L’Amour, da novela Insensato coração, ficou decepcionado. O filme é denso e está longe de sacanagem, nada de nudez frontal ou sexo explícito. A dramaturgia não deu lugar ao erotismo…
É a história de uma menina que vira celebridade, não para ser conhecida, mas para ser amada tentando se encontrar dentro de um caminho difícil. Saibam mais na nossa entrevista:
CLACRICLANDO com DEBORAH SECCO
Como foi a construção desse personagem?
Deborah – Foi a maior entrega que eu já tive a um trabalho. Precisei entender os motivos dela, aquela personalidade solitária, mergulhar naquele universo de imensa solidão, que é tão distante do meu. Eu sou superligada à família, tinha que entender o que é ser sozinha. Foram três meses longe de casa, morando em São Paulo e digo que quem ia para o set já era a Bruna, não a Deborah. Nesse período, eu pouco pensava como Deborah, já pensava como Bruna. O fato de estar longe de casa, falar pouco com a minha família, voltar sozinha para o hotel, tudo isso foi fundamental para esse trabalho.
Como foi o laboratório? Trocou muitas informações com a própria Raquel?
Deborah – Não. Fizemos uma preparação maravilhosa com o Sergio Penna (preparador de elenco em filmes como Bicho de Sete Cabeças, Carandiru e Lula, O Filho do Brasil). Depois, visitamos um desses lugares onde as meninas trabalham. A gente ficou no lugar onde elas moram e observava quando iam ou voltavam do programa. O que mais me chamou a atenção foi o olhar anestesiado delas, que é uma forma de aguentar aquilo tudo ali. A personagem é de poucas palavras, então a mudança é muito interna, muito no olhar dela também.
O que foi mais difícil no filme?
Deborah – O momento mais difícil foi quando vi o plano de filmagem e descobri que iria filmar várias fases diferentes num mesmo dia. Quase entrei em pânico. Porque são três personagens numa só, desde a Raquel do início, mais ingênua e desajeitada, até a última fase da Bruna. São energias completamente diferentes e tem as mudanças físicas, que foram todas trabalhadas em cima da postura, nessa preparação. Eu tinha que aparecer mais gordinha, menos gordinha, tudo só com o trabalho postural. No fim do dia, meu corpo chegava a doer, doía o ombro até a cintura.
Você engordou um pouco para o papel.
Deborah – Engordei oito quilos, mas não tinha a preocupação de estar com o corpo incrível. Ao contrário, nas cenas em que ela trabalha no privê, por exemplo, tinha que ter celulite, precisava até dar uma estragadinha (risos). Tenho o corpo que o personagem pede, sem problemas com vaidade.
Teve receio de aceitar o convite para o filme?
Deborah – No início, ainda não conhecia o Baldini e tivemos uma reunião muito séria sobre como ele iria filmar essa história. Conversamos sobre o roteiro, ele mostrou storyboard e vimos que tudo o que ele pensava, eu pensava também. Então, tivemos uma parceria de total confiança, eu sabia que, ligando a câmera, o que ele capturasse ia ser muito bom. E ao longo de todo o processo sempre me chamavam para ver o resultado, vi que me queriam confortável com o filme.
Acredita que muita gente vá ao cinema para ver você em cenas sensuais?
Deborah – Acho que muita gente vai primeiro pela história da Raquel, pelo sucesso do livro. E também pela sensualidade, pela curiosidade sobre as cenas de sexo. Mas vão encontrar um filme diferente do que esperam, muito mais profundo. Mostrei o filme para minha mãe e no fim ela disse que não conseguia avaliar se as cenas de sexo estavam pesadas, porque ficou tão envolvida com a história que se desligou disso. Foi o maior elogio que o filme podia receber.
O filme é um drama feminino, não?
Deborah – Acho que é um filme para mulheres, é um filme que fala da vida e dos sentimentos de uma menina como qualquer outra. Porque é muito do universo feminino essa carência absurda, essa necessidade de ser amada, de ser desejada. Toda mulher já se sentiu horrorosa, já se sentiu ‘inamável’, fez bobagens para ser querida, coisas patéticas de que depois se arrependeu. Homem não tem essa carência, é diferente.
Acha que amadureceu com esse trabalho
Deborah – Saio desse filme com outro pensamento sobre as pessoas. Aprendi a não julgar, a tentar entender que as circunstâncias da vida levam você a ser o que é. Tem uma frase no filme de que eu gosto muito: “As pessoas são como elas conseguem ser”. É isso, no meio de tantas loucuras que a vida apresenta, você é o melhor que pode ser. A gente não tem que julgar essas meninas porque não fazem nada de mal a ninguém, só a elas mesmas. A elas, fazem um mal imenso. São muitas dores, uma vida inimaginável.
Em apenas 03 dias em cartaz, o filme da “Bruna Surfistinha” já provocou uma espécie de resposta. Fora dos Set, a comissária de bordo Samantha Moraes, de 36 anos, que perdeu o marido para Raquel Pacheco, foi assistir o filme e prometeu lançar até o fim do ano um longa-metragem com sua versão da história. Baseado no livro “Depois do escorpião”, de 2006, o filme de Bruno Azevedo pode ser estrelado por Ana Paula Arósio, Fernanda Vasconcellos ou Alinne Moraes. Hoje a ex mulher de João Correa de Moraes e mãe de Isabella e Marrie é casada com o diretor de atrações do Super Pop, Marcelo Nascimento.